sexta-feira, 23 de julho de 2010

O Fantasma da Itália: Culto à imagem de Mussolini assombra democracia no país


Renato Grandelle
Benito Mussolini foi assassinado há quase 65 anos, mas seu fantasma ainda ronda a Itália. Imagens e frases do ditador fascista são tema de provas, discursos e pôsteres. O fenômeno não é novo, mas ganhou fôlego este ano e nas últimas semanas se tornou evidente. O “Duce”, como era conhecido, foi citado por Silvio Berlusconi — justamente em uma ocasião em que o premier quis negar a fama de poderoso — e ganhou outra menção polêmica no vestibular nacional, duas semanas atrás. Em uma questão da prova de italiano, os alunos eram instruídos a analisar uma frase em que ele tecia elogios à juventude.


Imagens de Mussolini não são raras no centro histórico romano. Dezenas de bancas dedicadas à venda de souvenires, como cartões postais e miniaturas do Coliseu, incluíram em seu catálogo pôsteres de Mussolini. E um aplicativo de
iPhone com os discursos do ditador está entre os mais baixados.
Mussolini ao lado de Hitler

O fantasma fascista assusta, mas não surpreende os historiadores. Trata-se de uma nova guinada no volúvel relacionamento da Itália com seu antigo líder. Já no fim da Segunda Guerra, Mussolini 
foi tirado do poder e fuzilado por guerrilheiros da Resistência. A imagem de um país que bateu de frente com o ditador permeou as décadas seguintes, mas enfraqueceu nos anos 70, quando novas pesquisas mostraram uma sociedade que, em boa parte, respaldou os crimes do ditador.

As décadas seguintes trouxeram a globalização e, com ela, um Estado nacional cada vez mais frágil. 
A chegada de imigrantes do norte da África e do leste da Europa expuseram a crise de identidade do país. Saudosistas e intolerantes refugiam-se na busca de um tempo mais altivo e guerreiro. Não raro, recorrem à imagem de Mussolini.

— Boa parte dos movimentos autoritários nutre-se da imagem de um Estado nacional perturbado com a circulação das populações — ressalta Maurício Parada, professor de História Contemporânea da 
PUC-Rio e organizador do livro “Fascismos: conceitos e experiências”. — As fraturas do cenário político italiano e a crise da identidade cultural explicam por que imagens de Mussolini podem ser compradas no meio da rua.

Por enquanto, a fala grossa da extrema direita não provoca mais do que espasmos. Parada acredita que a democracia italiana é sólida demais para rachar diante de invocações ao 
Duce. A socióloga italiana Simonetta Falasca-Zamponi, autora de “Espetáculo fascista: a estética do poder na Itália de Mussolini”, concorda com o colega brasileiro.

— O 
revisionismo sobre Mussolini acontece já há alguns anos. Faz parte da guinada à direita da política e cultura italianas, uma reação contra a Resistência e seus mitos — analisa. — Sobre o futuro, é difícil prever, mas me parece que as condições históricas atualmente são diferentes demais daquelas vistas logo após a Primeira Guerra Mundial para que um fenômeno como o fascismo possa se repetir.

Ainda assim, a polêmica presença do ditador ganhou força com dois golpes seguidos. O primeiro veio ainda em maio, quando um repórter perguntou a Berlusconi se os governos nacionais não perderam parte de sua soberania, visto que suas decisões para conter a crise econômica não foram acatadas pelo mercado.

O primeiro-ministro lembrou-se imediatamente de uma frase do diário de Mussolini — obra de que é entusiasta. “Eu não tenho nenhum poder”, disseram ambos. O fascista ainda completou: “Talvez tenham os líderes, mas eu não. Posso decidir se o cavalo vai para a direita ou 
a esquerda, mas nada mais”.

— Berlusconi me parece ser um emérito ignorante em termos históricos, e não creio que entenda o que de fato foi o fascismo — condena 
Simonetta. — Ele é claramente atraído pela perspectiva de um poder que não possa ser questionado.

— Mussolini, com esta frase, diz que o poder não está concentrado em sua figura, mas que ele é o meio para o poder se realizar — alerta Parada. — Esta é a síntese de um projeto autoritário, porque todas as 
outras alternativas de organização, como partidos e sindicatos, são eliminadas. Quando Berlusconi a lembra, manifesta um desejo de autoridade.

Duas semanas atrás, Mussolini emplacou outra pérola, desta vez na prova de italiano do vestibular nacional. Um dos exercícios exigia a análise de quatro frases, todas sobre o papel dos jovens na História e na política. Assinavam as citações, além do ditador, o comunista 
Palmiro Togliatti, o democrata cristão Aldo Moro e o Papa João Paulo II.

Comparar ideólogos tão diferentes, para historiadores ouvidos pela imprensa italiana, não é problema. O que provocou o debate foi 
a frase escolhida para representar o Duce. A citação, retirada do contexto original, pertencia a um discurso em que Mussolini versava sobre o assassinato do deputado socialista Giacomo Matteottisequestrado e morto em 1924, três semanas após denunciar o Estado policial na tribuna do Parlamento.

— Aqueles que não conseguem associar (a frase) ao contexto histórico de opressão podem reter-se na retórica com que Mussolini usou o conceito de juventude — alertou o historiador Claudio 
Pavone, em reportagem do jornal “LaRepubblica”. — Colocar aquela frase e outras citações sob um título genérico me parece um modo perigoso de despolitizar o fascismo.

E o risco de que o aluno não associe o discurso à ocasião é grande, segundo 
Simonetta:

— Infelizmente a juventude não sabe muito sobre o fascismo, assim como eu não sabia quando era jovem. Esta sempre foi uma grande falha do ensino italiano. Dependemos da qualidade do sistema escolar para saber quantos reagiriam à retomada de um sistema político semelhante ao de Mussolini.


Jornal: O GLOBO
Autor:  
Editoria: Ciência
Tamanho: 982 palavras
Edição: 1
Página: 30
Coluna:
Seção:
Caderno: Primeiro Caderno
© 2001 Todos os direitos reservados à Agência O Globo

No jornal: Escolha dos vices não leva em conta a História


Autor(es): Agencia o Globo/Gustavo Alves
O Globo - 01/07/2010
Nomes são indicados sem a lembrança de que, de Deodoro a Collor, oito presidentes tiveram de ser substituídos 

GETÚLIO VARGAS: ele se matou com um tiro




JÂNIO QUADROS: acabou renunciando



COSTA E SILVA: morreu no exercício do cargo


JOÃO GOULART: foi derrubado pelo regime
TANCREDO: morto, assumiu Sarney 



FERNANDO COLLOR: sofreu impeachment


A frase do humorista Ivan Lessa de que de 15 em 15 anos o Brasil esquece o que houve nos últimos 15 anos nunca parece tão acertada quando se pensa nos vices escolhidos pelos candidatos à Presidência este ano. Os nomes indicados por dois dos principais candidatos serviram para garantir alianças e mais tempo de TV, no caso de Indio da Costa e do peemedebista Michel Temer. Ou para se aproximar de empresários, como no caso de Guilherme Leal, presidente da Natura. Mas, entre os critérios que os levaram a ser escolhidos, não parece ter sido levada em conta a hipótese de que eles possam, um dia, assumir a Presidência . 

- É uma possibilidade que se tornou bastante frequente na História do Brasil - alerta a historiadora Isabel Lustosa, autora de "História de Presidentes da República", antes de enumerar os casos das sete vezes em que o vice assumiu, sem contar um em que ele foi impedido, durante o regime militar de 1964. 

Delfim Moreira assumiu 
com problemas mentais 

O primeiro deles foi o primeiro vice - Floriano Peixoto substituiu Deodoro da Fonseca, que renunciou depois de proclamar a República. Em 1909, foi a vez do campista Nilo Peçanha assumir no lugar de Afonso Pena, que morreu durante seu mandato, logo depois do filho, Álvaro. 

Caso mais grave foi o de Delfim Moreira: ele entrou no lugar de Rodrigues Alves antes mesmo de o político paulista assumir seu segundo mandato - ele morreu na epidemia de gripe espanhola que devastou o planeta durante a I Guerra Mundial. Assumiu, mas não governou, por causa de seus problemas mentais - a administração do Brasil em 1919, na prática, ficou a cargo de Afrânio de Melo Franco, ministro de Obras e Viação, no período chamado por historiadores de "regência republicana". 

Os vices não foram chamados a sair da sombra no restante da República Velha - que terminou quando foi assassinado o candidato a vice de Getúlio Vargas, João Pessoa, governador da Paraíba, crime que deflagrou a revolução de 1930. Foi o início do predomínio de Getúlio na política brasileira, que só terminaria em 1954, quando ele se matou - e assumiu o seu vice, Café Filho. Café foi escolhido vice de Getúlio também por um arranjo entre partidos: foi uma condição imposta por Adhemar de Barros para apoiar a volta do caudilho gaúcho à Presidência. 

O próximo vice a assumir foi João Goulart, que entrou no cargo com a renúncia de Jânio Quadros, em 1961. Ele não havia sido eleito na mesma chapa de Jânio: a legislação eleitoral previa votações separadas para presidente e vice. Herdeiro de Getúlio, Jango era malvisto pelos conservadores e militares e, para tomar posse, teve de aceitar a mudança do regime de governo - o Brasil foi parlamentarista de 1962 a 1963. 

No ano seguinte, Jango foi deposto pelo golpe militar, e foi no regime de exceção que Pedro Aleixo entrou para a História como o vice que não entrou para a Presidência: com o afastamento de Costa e Silva por uma trombose em 1969, foi impedido de assumir pela junta militar que governou o Brasil até a posse do próximo general-presidente, Emílio Garrastazu Médici. 

O fim da ditadura foi outro episódio que demonstra a importância dos vices-presidentes: eleito, Tancredo Neves adoeceu, e José Sarney assumiu em seu lugar. O próximo presidente também não terminaria o mandato: Fernando Collor de Mello sofreu um processo de impeachment e foi substituído pelo vice, Itamar Franco. 

"Tempo de TV virou uma espécie de ditadura" 

Diante desta sequência de casos traumáticos em que os vices se tornaram os governantes, ainda assim José Serra (PSDB) terá como companheiro de chapa alguém que já foi chamado de despreparado para ser prefeito do Rio pelo seu próprio padrinho político, Cesar Maia. Dilma Rousseff (PT) escolheu um nome do PMDB, partido identificado com o fisiologismo e a corrupção. E Marina Silva (PV) optou por um empresário sem experiência política. 

Para Isabel Lustosa, no caso de Guilherme Leal, foi a necessidade de Marina de se aproximar do setor produtivo. No caso de Indio da Costa e Michel Temer, pesou o tempo de televisão que os candidatos a presidente queriam de seus partidos aliados, o DEM e o PMDB: 

- O tempo de TV virou uma espécie de ditadura - critica a historiadora.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Hoje na História: 14 de Julho - A Revolução Francesa

No dia 14 de Julho de 1789, caía um dos símbolos da monarquia absolutista francesa: a fortaleza da Bastilha - prisão criada para os opositores do regime. Algumas pessoas denotam equivocadamente este acontecimento como o início da Revolução Francesa, sem terem em mente que toda revolução é um processo histórico, isto é, de permanência e rupturas. Portanto, o conceito de revolução abrange os acontecimentos que a antecederam, bem como, as suas causas e, posteriormente, suas conseqüências. Alguns historiadores demarcam a Revolução Francesa como o início da Idade Contemporânea, tamanha a influência que este acontecimento teve em outros movimentos de independência, como na América. Para saber um pouco mais sobre a Revolução Francesa clique na imagem abaixo:




A queda da Bastilha - clique aqui!


Elaborei alguns exercícios básicos sobre a Revolução Francesa. Veja a seguir:

EXERCÍCIOS:

1.
“O que é o terceiro estado? Tudo. O que ele tem sido na política francesa até hoje? Nada. O que ele pede? Ser qualquer coisa.”
                                                                  Sieyés – abade francês - 1789

A frase acima é do abade francês Sieyés em 1789, às vésperas da Revolução Francesa. Baseado nisto, cite qual ou quais grupos representavam o terceiro estado francês no início do século XVIII e explique a relação deste com a revolução.

2.


“A Liberdade Guiando o Povo, quadro no qual Eugène Delacroix (1798-1863) mostra a revolta da população parisiense, que, mobilizada pelas idéias liberais, em 1830, sai às ruas para pôr fim ao absolutismo.”
Baseado na afirmação acima, responda ao que se pede:
a)                 Quais foram as principais causas da Revolução Francesa?
b)                 Quais foram os principais clubes revolucionários que surgiram na primeira etapa da revolução e suas características?

3.
Art.1.º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.
Art. 2.º A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão.
Art. 3.º O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente.
Art. 4.º A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei.(...)

O trecho acima retirado da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em 1789, revela como a revolução foi influenciada pelos princípios iluministas. Baseado nesta informação, responda quais princípios iluministas eram estes?

Gabarito em vermelho desta questões:
1ª Questão:
O aluno poderá descrever a situação do terceiro estado francês antes da revolução (pagavam impostos e eram submetidos aos dois primeiros estados), caracterizá-lo (alta e baixa burguesia, sans-cullotes e camponeses), além de relacioná-lo com a Revolução Francesa e denotá-la como uma revolução essencialmente (não totalmente) burguesa e de caráter liberal.
2ª Questão:
a)                  O aluno poderá citar pelo menos três dentre as demais causas da Revolução Francesa: a crise da agricultura, o aumento das dívidas e das despesas do Estado, devido à Guerra dos Setes anos e a Guerra da Independência dos EUA; a diminuição do mercado externo francês, devido à perda de importantes áreas coloniais; o Tratado de comércio (Éden – Rayneval), de 1786, em que os produtos industriais ingleses entravam com baixas tarifas alfandegárias no mercado francês, destruindo a nascente indústria francesa.
b)                 O aluno poderá citar os Girondinos ou a alta burguesia (políticos moderados que defendiam a República liberal que garantisse a propriedade privada); os Jacobinos ou a baixa burguesia (políticos mais radicais que lutavam por uma República Democrática e igualitária; além do grupo Pântano (políticos de caráter centrista, indecisos que votavam ora com os Girondinos, ora com os Jacobinos.
3ª Questão:
O aluno poderá citar alguns dentre os demais princípios iluministas na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789): o caráter universal do documento no que diz respeito aos direitos que a natureza conferiu a todo ser humano; os direitos do Estado como correlato aos direitos do homem, além do impedimento a qualquer forma de poder arbitrário.
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Para mais informações:
Acesse os links:

Leia os livros:
GRESPAN, Jorge. Revolução Francesa e Iluminismo. São Paulo: Contexto, 2008. 
HOBSBAWN, Eric. J. A Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. 
SOBOUL, Albert. A Revolução Francesa. 9. ed. Rio de Janeiro: Difel, 1997.

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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Brasil Colônia: União Ibérica e as Invasões Holandesas



Vídeo: Palpita Brasil - ESPN




A União Ibérica e o Brasil Holandês - 1580 - 1640

Anexação de Portugal. Desde 1556 a Espanha era governada por Filipe II (1556 - 1598), membro de uma das mais poderosas dinastias européias: os Habsburgos ou Casa d'Áustria, que além da Espanha detinha o controle do Sacro-Império Romano Germânico, sediado na Áustria, com influências também sobre a Alemanha e a Itália.
    Nos tempos do reinado de Filipe II, a exploração das minas de prata da América espanhola havia atingido o seu apogeu. Com a entrada da prata do México e do Peru, a Espanha se transformara, durante o século XVI, na mais poderosa nação européia. Isso levou os historiadores a classificarem o século XVI como o século da preponderância espanhola. Tendo em mãos recursos abundantes, Filipe II aliou o poderio econômico a uma agressiva política internacional, da qual resultou a anexação de Portugal (até então, reino independente) e a independência da Holanda (até então, possessão espanhola). Vejamos como Portugal passou ao domínio espanhol.

    Em 1578, o rei de Portugal, D. Sebastião, morreu na batalha de Alcácer-Quibir, no atual Marrocos, em luta contra os árabes. Com a morte do rei, que não tinha descendentes, o trono de Portugal foi ocupado pelo seu tio-avô, o velho cardeal D. Henrique, que, no entanto, faleceu em 1580, naturalmente sem deixar descendência... Com a morte deste último, extinguia-se a dinastia de Avis, que se encontrava no trono desde 1385, com a ascensão de D. João I, mestre de Avis.
    Vários pretendentes se candidataram então ao trono vago: D. Catarina, duquesa de Bragança, D. Antônio, prior do Crato e, também, Felipe II, rei da Espanha, que descendia, pelo lado materno, em linha direta, do rei D. Manuel, o Venturoso, que reinou nos tempos de Cabral. Depois de invadir Portugal e derrotar seus concorrentes, o poderoso monarca espanhol declarou: "Portugal, lo herdé, lo compré y lo conquisté".
    Assim, de 1580 até 1640, o rei da Espanha passou a ser, ao mesmo tempo, rei de Portugal, dando origem ao período conhecido como “União Ibérica”.
     Portugal havia adotado até então uma política internacional muito prudente, evitando, tanto quanto possível, atritos nessa área, ciente de sua própria fragilidade. Essa situação foi altera da completamente com a sua anexação pela Espanha, já que Portugal herdou, de imediato, todos os numerosos inimigos dos Habsburgos. Do ponto de vista colonial, o mais temível inimigo era a Holanda.


Holandeses no Brasil  

    Origens da Holanda. Os Países Baixos (atuais Bélgica, Holanda e parte do norte da França), desde a segunda metade da Idade Média, constituíram -se numa região de grande prosperidade econômica, cujas manufaturas têxteis desfrutavam inigualável reputação internacional. Formou-se, assim, nos Países Baixos, uma poderosa burguesia mercantil, uma das mais progressistas da Europa.

    Os Países Baixos eram possessões dos Habsburgos e tinham grande autonomia no rei­nado de Carlos V (pai de Filipe II). Suas tradições e interesses econômicos locais eram respeitados.
    Essa situação se alterou profundamente com a ascensão de Filipe II, que herdou do pai o trono espanhol e os Países Baixos. A razão da mudança explica-se por dois motivos básicos: em primeiro lugar, o advento do protestantismo tinha polarizado o mundo cristão no século XVI, provocando intermináveis conflitos entre católicos e protestantes. Nos Países Baixos, em razão do predomínio burguês, difundiu-se rapidamente o calvinismo, ao passo que a Espanha mantinha-se profundamente católica. E Filipe II era considerado o mais poderoso e o mais devotado monarca católico. Em segundo lugar, Filipe II era um rei absolutista. Assim, com a sua chegada ao trono terminou a fase de benevolência em relação aos Países Baixos. O novo monarca pôs fim à tolerância religiosa e substituiu os governantes nativos por administradores espanhóis de sua confiança, subordinando os Países Baixos diretamente à Espanha.
    A reação nos Países Baixos foi imediata, com a eclosão de revoltas por toda parte. A fim de reprimi-las, Filipe II enviou tropas espanholas sob o comando do violento duque de Alba. À repressão político-religiosa, somou se o confisco dos bens dos revoltosos, conforme relatou o duque de Alba ao rei: “Atualmente detenho criminosos riquíssimos e temíveis e os submeto a multas em dinheiro; logo me ocuparei das cidades criminosas. Desse modo às arcas de Vossa Majestade fluirão somas consideráveis”.


Territórios da Casa de Habsburg ao tempo de Filipe II


Contra essa violência espanhola uniram-se dezessete províncias dos Países Baixos para resistir melhor. Porém, a luta anticatólica, antiabsolutista e antiespanhola dos Países Baixos começou a tomar, com o tempo, uma coloração mais radical e passou a ameaçar a própria ordem social. A nobreza e os ricos mercadores começaram a se sentir ameaçados em seus privilégios pela crescente participação popular na rebelião antiespanhola, principalmente nas províncias do sul - Bélgica atual. A fim de evitar o agravamento dessa tendência indesejável para a camada dominante, as províncias do sul decidiram abandonar a luta e se submeter aos espanhóis em 1579. No entanto, continuaram a resistir as sete províncias do norte, que formaram a União de Utrecht, em 1581, e não mais reconheceram a autoridade de Filipe II.
    Sob a liderança de Guilherme, o Taciturno, prosseguiu a luta da União de Utrecht. Guilherme, entretanto, foi assassinado em 1584, o que conduziu à criação de um Conselho Nacional, integrado pela nobreza e pela burguesia. Nasceram, desse modo, as Províncias Unidas dos Países Baixos na República da Holanda.
    Em sua luta contra a Espanha, a Holanda foi apoiada ativamente pela Inglaterra. Assim, devido à tenaz resistência holandesa e à ampliação do conflito, a Espanha aceitou finalmente uma trégua - a trégua dos 12 anos: de 1609 a 1621 –, que foi, na prática, o reconhecimento da independência da Holanda.
    Reflexos da Guerra dos Países Baixos em Portugal. Desde a Idade Média, Portugal mantinha com os Países Baixos relações comerciais, que se intensificaram na época da expansão marítima. Os mercadores flamengos eram os principais compradores e distribuidores dos produtos orientais trazidos por Portugal.
    Ora, essa situação se alterou radicalmente com a Guerra dos Países Baixos. A Espanha, que nesse tempo já havia incorporado o reino português, adotou, em represália aos Países Baixos, medidas restritivas ao comércio com seus portos, incluindo Portugal.
    Para a Holanda, que conquistara a independência, tais medidas tornaram-se permanentes. Porém, uma vez vedado o acesso aos portos portugueses, os mercadores de Amsterdã decidiram atuar diretamente no Índico. As primeiras experiências acabaram fracassando, mas a solução para o comércio direto foi finalmente encontrada com a constituição da Companhia das Índias Orientais (1602), que passou a ter o monopólio do comércio oriental, garantindo desse modo a lucratividade da empresa.
    O êxito dessa experiência induziu os holandeses a constituírem, em 1621, exatamente no momento em que expirava a trégua dos 12 anos, a Companhia das Índias Ocidentais, a quem os Estados Gerais (órgão político supremo da Holanda) concederam o monopólio do tráfico de escravos, da navegação e do comércio por 24 anos, na América e na África. A essa nova companhia deve-se creditar a maior façanha dos holandeses: a conquista de quase todo o nordeste açucareiro no Brasil.
   Os holandeses na Bahia (1624-1625). A primeira tentativa de conquista holandesa no Brasil ocorreu em 1624. O alvo visado era Salvador, a capital da colônia.
    Os holandeses não faziam muito segredo de seus planos. Diogo de Mendonça Furtado, governador da Bahia, tinha conhecimento do fato, embora não tomasse nenhuma providência para repelir o iminente ataque holandês. Resultado: no ano de 1624, quando a invasão holandesa se efetivou, bastaram pouco mais de 24 horas para que a cidade fosse completamente dominada. O governador Mendonça Furtado foi preso e enviado a Amsterdã. O seu lugar foi ocupado pelo holandês Van Dorth.
    Passado o pânico inicial, os colonos se reagruparam e começaram a resistência. Destacou-se aqui o bispo Dom Marcos Teixeira, que mobilizou os moradores através do apelo religioso: a luta contra os holandeses foi apresentada como luta contra os heréticos calvinistas. Essa luta guerrilheira que então se iniciou, contabilizou alguns êxitos, entre eles a morte do próprio governador holandês, Van Dorth. Enfim, os holandeses foram repelidos por uma esquadra luso espanhola, conhecida com v nome pomposo de Jornada dos Vassalos. Essa primeira tentativa holandesa durou praticamente um ano: de 1624 a 1625.
    Apesar do fracasso em Salvador, os holandeses foram amplamente recompensados, em 1028, com a apreensão, nas Antilhas, de um dos maiores carregamentos de prata americana para a Espanha. A façanha é atribuída a Piet Heyn, comandante da esquadra holandesa. Os recursos obtidos com esse ato de pirataria ser viram para financiar uma segunda tentativa, desta vez contra Pernambuco.


Domínio Holandês no Brasil

    Os holandeses em Pernambuco (1630 -1654), Em 1630, com uma esquadra de setenta navios, os holandeses chegaram a Pernambuco, dominando, sem maiores problemas, Recife e Olinda, apesar dos preparativos de defesa efetuados por Matias de Albuquerque, governador de Pernambuco.
    Contra os holandeses, organizaram-se as Companhias de Emboscada, grupos guerrilheiros chefiados por Matias de Albuquerque, que iriam se fixar no Arraial do Bom Jesus, situado numa região entre Olinda e Recife.
    Apesar de os holandeses estarem mais bem armados e contarem com um contingente apreciável de soldados, a resistência luso-brasileira possuía a seu favor o fator surpresa alia do ao melhor conhecimento do terreno. Porém, essa situação se alterou com a passagem de Domingos Fernandes Calabar para o lado holandês.

    A organização do Brasil holandês. Até 1635 os holandeses estavam arcando com as despesas militares da conquista. A Nova Holanda, que então se constituía, era, aos olhos da Companhia das Índias Ocidentais, um empreendimento comercial de que se esperava extrair altos lucros. Era preciso, portanto, colocá-la rapidamente em condições de produzir. Para organizar os seus domínios no Brasil, foi enviado, como governador-geral, João Maurício de Nassau-Siegen, que aqui permaneceu de 1637 a 1644.


O conde Johann Mauritius van Nassau talvez tenha sido um dos melhores administradores um dos políticos mais competentes de toda a história do Brasil


Bibliografia:
História do Brasil - Luiz Koshiba - Editora Atual
História do Brasil - Bóris Fausto - EDUSP
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