sábado, 12 de novembro de 2011

Edward Thompson e Michel Foucault: trabalho e disciplina


Prezados amigos, eu tive a ideia de postar alguns trabalhos meus realizados na Universidade. Este trabalho trata de um aspecto do livro do historiador Edward Thompson, Costumes em Comum e de um aspecto do famoso livro de Michel Foucault, Vigiar e Punir. Citei outros autores que achei pertinente ao tema. Aviso que não houve ainda uma revisão no texto e me desculpem os eventuais equívocos. Espero que gostem!



Nas diferentes fases da Revolução Industrial perceberemos como as classes dominantes irão exercer um controle ou seu domínio sobre a classe do proletariado, principalmente no que se refere ao campo dos símbolos e das representações para poderem não só dominar os corpos dos trabalhadores, como também, seus imaginários. Aqui, neste trabalho, procuraremos nos ater a primeira e a segunda fase da revolução e como esta disciplinarização atingiu também as escolas.
Com a primeira revolução industrial, grande massa de trabalhadores ingleses oriundos das áreas agrícolas, necessitava ser disciplinada para poderem produzir o máximo que podiam a seus patrões. Na passagem do espaço da manufatura para o espaço fabril, Edward Thompson descreveu um antigo poema do século XVII, uma versão satírica sobre a irregularidade geral da semana do trabalho:

“Sabemos que a segunda-feira é irmã do domingo;
A terça também;
Na quarta-feira temos que ir à igreja e rezar;
A quinta-feira é meio feriado;
Na sexta-feira é tarde demais para começar a fiar;
O sábado é outra vez meio-feriado.”[1]

Diante dos aspectos do poema citado acima, podemos perceber que não havia uma regularização ou uma obediência com relação ao tempo de trabalho nas antigas oficinas em que o exercício da profissão era feito em casa e os artesãos usavam suas próprias ferramentas. A noção de tempo para estes trabalhadores ingleses, ainda no início do século XVIII, era a idéia do tempo através dos feriados religiosos, das badaladas da igreja, das festas tradicionais e etc. Veremos como nos século XVIII e XIX, os patrões tiveram que lidar com os trabalhadores indisciplinados. Nesta mesma questão trabalha-se na transição do espaço da manufatura para o espaço da fábrica, ou seja, os trabalhadores reunidos no


[1] THOMPSON, E. P. Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial. In: ____. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1982. p. 281.

mesmo galpão sobre a vigilância de um inspetor ou do próprio patrão.[1] O relógio passa a delimitar o tempo, sendo colocado num ponto alto da fábrica onde todos possam ver as horas. Caso um trabalhador conversasse ou se atrasasse, este era punido com em seu trabalho ou demitido do emprego. Podemos observar essa vigilância como uma espécie de panóptica descrita por Michel Foucault:

“Percorrendo-se o corredor central da oficina, é possível realizar uma vigilância ao mesmo tempo geral e individual; constatar a presença, a aplicação do operário, a qualidade de seu trabalho; comparar os operários entre si, classificá-los segundo sua habilidade e rapidez; acompanhar os sucessivos estágios da fabricação. Todas essas seriações formam um quadriculado permanente: as confusões se desfazem ; a produção se divide e o processo de trabalho se articula por um lado segundo suas fases, estágios ou operações elementares, e por outro, segundo os indivíduos que o efetuam, os corpos singulares que a ele são aplicados [...].”[2]

Esta disciplina era exercida pelo patrão ou pelos próprios colegas de trabalho. Havia um controle do tempo e do espaço nas fábricas em que todos eram vigiados para que a produção atingisse cada vez mais níveis superiores e o trabalhador, por sua vez, exercesse suas atividades com mais rapidez e mais responsabilidade.
Essa vigilância e o medo de ser punido faziam com que os operários trabalhassem horas seguidas em um sistema repetitivo e exaustivo. Num princípio chamado de “quadriculamento individualizante” descrito pelo mesmo autor, no fim do século XVIII, era necessário distribuir os indivíduos, isolá-los e localizá-los, e com isso, poder exercer um controle sobre seus corpos. Isto também revelou um domínio sobre o imaginário destes operários. Segundo Bronislaw Baczko,

“As ciências humanas punham em destaque o facto de qualquer poder, designadamente o poder político, se rodear de representações colectivas. Para tal poder, o domínio do imaginário e do simbólico é um importante lugar estratégico.[3]

Com medo das sanções ou do que pudesse vir a acontecer como formas de punições, grande massa de operários trabalhavam nas fábricas, produziam cada vez mais, se machucavam, viviam em péssimas condições de vida, mas obedeciam a seus patrões mesmo assim. Essa forma de obediência cega revelou uma “docialidade automática”, corpos sendo subjugados por um sistema de trabalho e por seus supervisores, às vezes, de forma até subconsciente, uma obrigação natural (doxa), de ir trabalhar mesmo doente, mesmo quando não se quer exercer a função, com receio do que poderia acontecer caso fossem contra a este sistema de dominação vigente.

Tempos Modernos - Charles Chaplin

Tanto no século XVIII e, sobretudo, no século XIX com o Fordismo, vemos o espaço da fábrica cada vez mais dividido, seriado, padronizado e o homem como uma continuação da máquina ou sendo “engolido” por ela como podemos observar no genial filme de Charles Chaplin em “Tempos Modernos”. Movimentos repetitivos, gestos padronizados, rítmicos e vigiados, não necessitavam de uma mão-de-obra qualificada. A grande massa trabalhadora não precisava ser educada. Apenas os filhos da burguesia ou da aristocracia estudavam, conforme mostra Hobsbawm:

“Até mesmo as famílias aristocráticas que desejavam educação para seus filhos confiavam em tutores e universidades escocesas. Não havia qualquer sistema de educação primária antes que Quaker Lancaster [...] lançasse uma espécie de alfabetização em massa, elementar realizada por voluntários, no princípio do século XIX, incidentemente selando para sempre a educação inglesa com controvérsias sectárias. Temores sociais desencorajavam a educação dos pobres.
Felizmente poucos refinamentos intelectuais foram necessários para se fazer a revolução industrial. Suas invenções técnicas foram bastante modestas e sob hipótese alguma estavam além dos limites de artesãos que trabalhavam em suas oficinas [...].”[4]

É notório perceber na obra de Foucault que no século XVIII, os corpos passam a ser objeto e alvo de poder tanto na esfera pública quanto na esfera privada e também em lugares que nem poderíamos citar como um ou outro (igrejas e escolas, por exemplo). Nas escolas, perceberemos com o avanço da Revolução Industrial, uma modificação espacial nas salas de aula e a divisão das tarefas entre alunos mais adiantados e os que estão na fase inicial. O objeto que pode regular o tempo também é o relógio exposto no alto das salas e o sino que toca para avisar quando uma aula termina e quando outra deve começar. Os alunos posicionados em fileiras, um de costas para o outro e todos escutando o professor e obedientes a ele. Caso ocorresse algum tipo de comportamento inadequado dentro de sala (conversas e risos, por exemplo), os professores poderiam “punir” seus alunos com castigos, alguns até físicos. Para evitar este tipo de medida drástica (a palmatória, por exemplo), alguns professores selecionavam os alunos mais adiantados ou mais inteligentes para fiscalizar outros alunos, fazendo assim com que não houvesse desperdício de tempo. Vejamos o que Foucault escreveu:

“Mas é sem dúvida no ensino primário que esse ajustamento das cronologias diferentes será mais útil. Do século XVII até a introdução, no começo do XIX, do método Lancaster, o mecanismo complexo da escola  mútua se construirá uma engrenagem depois da outra: confiaram-se primeiro aos alunos mais velhos tarefas de simples fiscalização, depois de controle do trabalho, em seguida, de ensino; e então no fim das contas, todo o tempo de todos os alunos estava ocupado seja ensinando seja aprendendo. A escola torna-se um aparelho de aprender onde cada aluno, cada nível e cada momento, se estão combinados como deve ser, são permanentemente utilizados no processo geral de ensino.”[5]

Sendo assim, tanto os operários nas fábricas quanto os alunos nas escolas eram controlados por aqueles que exerciam o poder sobre seus imaginários. Tanto o discurso dos patrões quanto dos professores e o medo de serem punidos caso tivessem um comportamento inadequado, fazia com que trabalhadores e alunos obedecessem a uma padronização de seus comportamentos, ou seja, divididos em série nos seus espaços (fábricas e escolas), hierarquizados pelas suas funções e/ou habilidades, obedecendo ao ritmo do relógio posto no alto de cada espaço, sendo vigiados por seus colegas ou por seus superiores.
O importante também é ressaltar que Foucault se refere a uma dominação no sentido vertical, mas de cima para baixo. Os patrões e os mestres exemplificados aqui exerciam o controle sobre seus subordinados. Já Baczko fala de uma dominação mais ampla, isto quer dizer que os próprios trabalhadores ou os alunos poderiam exercer certo poder sobre seus superiores, como por exemplo: os trabalhadores diante de suas péssimas condições de trabalho iriam exigir leis que possam garantir mais segurança ou se aliavam a grupos sindicais. Na escola, não só os alunos se negariam a estas práticas mecânicas de aprendizado, mas os próprios professores optariam por outras formas de ensino em que os educandos participassem mais das aulas ao invés apenas de serem receptores de informações.
Com isso, ressaltamos mais uma vez, que quem controla o imaginário de um indivíduo, exerce o poder sobre ele e este exercício de poder normatiza ou direciona o que seria um comportamento social aceitável ou não.

Autora: Carla Magdenier Sobrino
Disciplina: História Cultural
UGF: 2010

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BACZKO, B. Imaginação Social. In: LEACH, Edmund et alli. Anthropos-Homem. Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1985.
FOUCAULT, M. Os corpos dóceis. In:____. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1977. Cap. 1, pp. 125-152.
HOBSBAWM, E. J. A revolução industrial. In:____. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. 18. ed.  São Paulo: Paz e Terra, 2004. pp. 49-82.
MENEZES, Eduardo. A (re) significação da noção de espaço na Geografia Escolar: a contribuição poética bachelardiana e da teoria do imaginário. Niterói: UFF, 2010.
THOMPSON, E. P. Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial. In: ____. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1982.


[1] MENEZES, Eduardo. A (re) significação da noção de espaço na Geografia Escolar: a contribuição poética bachelardiana e da teoria do imaginário. Niterói: UFF, 2010.
[2] FOUCAULT, M. Os corpos dóceis. In:____. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1977. Cap. 1, p. 133.
[3] BACZKO, B. Imaginação Social. In: LEACH, Edmund et alli. Anthropos-Homem. Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1985. p. 297.
[4] HOBSBAWM, E. J. A revolução industrial. In:____. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. 18. ed.  São Paulo: Paz e Terra, 2004. pp. 53-54.
[5] FOUCAULT, M. Os corpos dóceis. In:____. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1977. Cap. 1, p. 149.

Blogs de Amigos

Olá, pessoal! Recomendo dois blogs de professores amigos:

http://chibatas.blogspot.com/  Sobre a Revolta da Chibata com vasta documentação. Vale a pena ver!
Professor Eduardo Seabra.

http://tiradenteseaiconografia.blogspot.com/  Sobre o mito criado em torno da figura de Tiradentes durante o período Republicano. Muito bom! Professor Tauã Silva.


domingo, 12 de junho de 2011

História de São Valentim - História e Tradição - Dia dos Namorados e São Valentim 2011

O Dia dos Namorados é celebrado naquele que até 1969, era o Dia de São Valentim. No entanto a Igreja Católica decidiu não celebrar os santos cujas origens não são claras. Isto porque até nós chegaram relatos de pelo menosdois Valentim, santos martirizados, directamente relacionados com o dia 14 de Fevereiro.

As raízes deste dia remontam à Roma Antiga e à Lupercália, festa em homenagem a Juno, deusa associada à fertilidade e ao casamento. O festival consistia numa lotaria, onde os rapazes tiravam à sorte de uma caixa, o nome da rapariga que viria a ser a sua companheira durante a duração das festividades, normalmente um mês. A celebração decorreu durante cerca de 800 anos, em Fevereiro, até que em 496 d.c., o Papa Gelásio I decidiu instituir o dia 14 como o dia de São Valentim, para que a a celebração cristã absorvesse o paganismo da data. Vejam mais em:
História de São Valentim - História e Tradição - Dia dos Namorados e São Valentim 2011

O Globo :: Rio :: Festa Junina

O Globo :: Rio :: Festa Junina

Celebração medieval que foi incorporada pela Igreja Católica, a festa junina chegou ao Brasil por intermédio dos padres jesuítas durante o processo de colonização no século XVI. Os religiosos portugueses usavam as festividades cristãs para passar o ideário da doutrina da Igreja aos índios. Inicialmente, a comemoração não tinha o formato que conhecemos hoje, mas com o tempo foi sofrendo um processo de hibridismo cultural. A comida foi modificada, e a dança e a música incluídas.

domingo, 5 de junho de 2011

Filme "Cafundó" com Lázaro Ramos



Amigos do JHistBlog,


Ontem eu assisti a um filme com o grande ator, Lázaro Ramos. O nome da película é "Cafundó" e trata das questões relativas ao sincretismo religioso brasileiro. Grande parte do filme é ambientada no final do século XIX. O personagem João de Carmago vivido por Lázaro é um ex-escravo, que escuta vozes e tem visões e junto com um outro amigo liberto luta pela sobrevivência. Após uma decepção amorosa, João de Camargo passa por uma verdadeira transformação e funda uma pequena igreja, com imagens de pretos velhos, entidades africanas e santos católicos. Ao que parece, João de Camargo existiu e morreu em 1942.

Recomendo o filme no sentido de entendermos um pouco mais sobre o universo de nossa rica cultura.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mensagem para os amigos do JHistBlog

Prezados amigos do JHistBlog,

Estive afastada do nosso site para resolver questões acadêmicas. Em breve, eu postarei assuntos diversos relacionados à nossa querida ciência ou à cultura em geral. Peço-lhes desculpas pela minha ausência e por mudar os aspectos relacionados à privacidade. Infelizmente, usaram nossa caixa de mensagens (cbox) para bater papo, jogar conversa fora, etc. Eu quis apenas propiciar um espaço para que alguns estudantes ou colegas de profissão deixassem suas mensagens com críticas/ sugestões ou até os endereços de seus blogs, o que alguns gentilmente já estavam fazendo. No entanto, outras pessoas usaram o nosso cbox (chat) como um messenger particular e esse não é o nosso objetivo.
Bem, meus amigos, espero que dêem uma olhada aqui de vez em quando e comentem os posts que em breve aparecerão.


Outra coisa importante: o nome do nosso blog mudou: Jovens na História Blog agora é JHistBlog


Estamos atualizando aos poucos...

Um grande abraço.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Egito: o presidente Mubarak renuncia após uma onda de protestos




Após permanecer no poder por quase três décadas, Hosni Mubarak, de 82 anos, renunciou nesta sexta-feira à Presidência do Egito, após 18 dias de protestos nas ruas da capital, Cairo.
A renúncia foi anunciada na TV estatal pelo vice-presidente egípcio, Omar Suleiman. Segundo ele, Mubarak entregou a responsabilidade de conduzir a nação a um alto conselho militar.
Mais informações sobre a trajetória de Mubarak no site da BBC – Brasil


O Egito Moderno

A breve invasão francesa do Egito em 1798, chefiada por Napoleão Bonaparte, resultou num grande impacto no país e em sua cultura. Os egípcios foram expostos aos princípios da Revolução Francesa e tiveram a oportunidade de exercitar o auto-governo.[13] À retirada francesa seguiu-se uma série de guerras civis entre os turcos otomanos, os mamelucos e mercenários albaneses, até que Mehmet Ali, de origem albanesa, tomou o controlo do país e foi nomeado vice-rei do Egito pelos otomanos em 1805. Ali promoveu uma campanha de obras públicas modernizadoras, como projetos de irrigação e reformas agrícolas, bem como uma maior industrialização do país, tarefa continuada e ampliada por seu neto e sucessor, Ismail Paxá.

A Assembleia dos Delegados foi fundada em 1866 com funções consultivas e veio a influenciar de maneira importante as decisões do governo.[14] A abertura do canal de Suez pelo Quediva Ismail, em 1869, tornou o Egito um centro mundial de transporte e comércio, mas fez com que o país contraísse uma pesada dívida junto às potências europeias. Como resultado, o Reino Unidotomou o controlo do governo egípcio em 1882 para proteger os seus interesses financeiros, em especial os relativos ao canal.

Logo após intervir no país, o Reino Unido enviou tropas para Alexandria e para a zona do canal, aproveitando-se da fraqueza das forças armadas egípcias. Com a derrota do exército egípcio na batalha de Tel el-Kebir, as tropas britânicas alcançaram o Cairo, eliminaram o governo nacionalista e dissolveram as forças armadas do país. Tecnicamente, o Egito permaneceu como uma província otomana até 1914, quando o Reino Unido derrubou Abbas II, último quediva egípcio, e formalmente declarou o Egito um protetorado seu. Hussein Kamil, tio de Abbas, foi então nomeado sultão do Egito.

Entre 1882 e 1906, surgiu um movimento nacionalista que propunha a independência. O Incidente de Dinshaway (em que soldados britânicos abriram fogo contra um grupo de egípcios) levou a oposição egípcia a adoptar uma posição mais forte contra a ocupação do país pelo Reino Unido. Fundaram-se os primeiros partidos políticos locais. Após a Primeira Guerra Mundial, Saad Zaghlul e o Partido Wafd chefiaram o movimento nacionalista egípcio, ganhando a maioria da assembleia legislativa local. Quando os britânicos exilaram Zaghlul e seus correligionários para Malta em 8 de Março de 1919, o país levantou-se na primeira revolta de sua história moderna. As constantes rebeliões por todo o país levaram o Reino Unido a proclamar, unilateralmente, a independência do Egito, em 22 de Fevereiro de 1922.

O novo governo egípcio promulgou uma constituição em 1923, com base num sistema parlamentarista representativo. Saad Zaghlul foi eleito para o cargo de primeiro-ministro pelo voto popular, em 1924. Em 1936, foi assinado o tratado anglo-egípcio, pelo qual o Reino Unido se comprometia a defender o Egito e recebia o direito de manter tropas no canal de Suez. A continuidade da ingerência britânica no país e o aumento do envolvimento do rei do Egito na política levaram à queda da monarquia e à dissolução do parlamento, por meio de um golpe militar conhecido como a Revolução de 1952. Este "Movimento dos Oficiais Livres" forçou o Rei Faruk a abdicar em favor do seu filho Fuad.

A República do Egito foi proclamada em 18 de Junho de 1953, presidida pelo General Muhammad Naguib. Em 1954, Gamal Abdel Nasser — o verdadeiro arquiteto do movimento de 1952 — forçou Naguib a renunciar, colocando-o em prisão domiciliária. Nasser assumiu a presidência e declarou a total independência do Egito com relação ao Reino Unido, em 18 de Junho de 1956, com a conclusão da retirada das tropas britânicas. Em 26 de Julho daquele ano, nacionalizou o canal de Suez, deflagrando a chamada Crise do Suez.
Nasser faleceu em 1970, três anos após a Guerra dos Seis Dias, na qual Israel invadiu e ocupou a peninsula do Sinai. Sucedeu-o Anwar Al Sadat, que afastou o país da União Soviética e o aproximou dos Estados Unidos, expulsando os conselheiros soviéticos em 1972. Promoveu uma reforma económica chamada "Infitá" e suprimiu de maneira violenta tanto a oposição política quanto a religiosa.

Em 1973, o Egito, juntamente com a Síria, deflagrou a Guerra de Outubro (ou do Yom Kippur), um ataque-surpresa contra as forças israelitas que ocupavam a península do Sinai e as colinas de Golã. Os EUA e a URSS intervieram e chegou-se a um cessar-fogo. Embora não tenha resultado num sucesso militar, a maioria dos historiadores concorda que o conflito representou uma vitória política que lhe permitiu posteriormente recuperar o Sinai em troca da paz com Israel.

A histórica visita de Sadat a Israel, em 1977, levou ao tratado de paz de 1979, que estipulava a retirada israelita completa do Sinai. A iniciativa de Sadat causou enorme controvérsia no mundo árabe e provocou a expulsão do Egito da Liga Árabe, embora fosse apoiada pela grande maioria dos egípcios. Um soldado fundamentalista islâmico assassinou Sadat no Cairo, em 1981. Sucedeu-o Hosni Mubarak. Em 2003, foi lançado o "Movimento Egípcio pela Mudança", que busca o retorno à democracia e a ampliação das liberdades civis. Desde o dia 25 de janeiro de 2011, o país assiste a massivos protestos populares contra o governo de Hosni Mubarak.

Em 11 de Fevereiro de 2011, Hosni Mubarak anuncia sua renúncia.

Wikipédia

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Na TV: o jornalista Geneton Moraes Neto entrevistou a sobrevivente do holocausto, Eva Schloss

Mulher que viveu experiência "aterrorizante" com Dr. Mengele no campo de concentração não quer ouvir falar em perdão para os carrascos. Veja os detalhes desta entrevista no site: Dossiê Geral - Geneton




Você sabe o que foi o HOLOCAUSTO?

O Holocausto foi uma prática de perseguição política, étnica, religiosa e sexual estabelecida durante os anos de governo nazista de Adolf Hitler. Segundo a ideologia nazista, a Alemanha deveria superar todos os entraves que impediam a formação de uma nação composta por seres superiores. Segundo essa mesma idéia, o povo legitimamente alemão era descendente dos arianos, um antigo povo que – segundo os etnólogos europeus do século XIX – tinham pele branca e deram origem à civilização européia. 

Dessa forma, para que a supremacia racial ariana fosse conquistada pelo povo alemão, o governo de Hitler passou a pregar o ódio contra aqueles que impediam a pureza racial dentro do território alemão. Segundo o discurso nazista, os maiores culpados por impedirem esse processo de eugenia étnica eram os ciganos e – principalmente – os judeus. Com isso, Hitler passou a perseguir e forçar o isolamento em guetos do povo judeu da Alemanha. 

Dado o início da Segunda Guerra, o governo nazista criou campos de concentração onde os judeus e ciganos eram forçados a viver e trabalhar. Nos campos, os concentrados eram obrigados a trabalhar nas indústrias vitais para a sustentação da Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Além disso, os ocupantes dos campos viviam em condições insalubres, tinham péssima alimentação, sofriam torturas e eram utilizados como cobaias em experimentos científicos. 

É importante lembrar que outros grupos sociais também foram perseguidos pelo regime nazista, por isso, foram levados aos campos de concentração. Os homossexuais, opositores políticos de Hitler, doentes mentais, pacifistas, eslavos e grupos religiosos, tais como as Testemunhas de Jeová, também sofreram com os horrores do Holocausto. Dessa forma, podemos evidenciar que o holocausto estendeu suas forças sobre todos aqueles grupos étnicos, sociais e religiosos que eram considerados uma ameaça ao governo de Adolf Hitler. 

Com o fim dos conflitos da 2ª Guerra e a derrota alemã, muitos oficiais do exército alemão decidiram assassinar os concentrados. Tal medida seria tomada com o intuito de acobertar todas as atrocidades praticadas nos vários campos de concentração espalhados pela Europa. Porém, as tropas francesas, britânicas e norte-americanas conseguiram expor a carnificina promovida pelos nazistas alemães. 

Depois de renderem os exércitos alemães, seus principais líderes foram julgados por um tribunal internacional criado na cidade alemã de Nuremberg. Com o fim do julgamento, muitos deles foram condenados à morte sob a alegação de praticarem crimes de guerra. Hoje em dia, muitas obras, museus e instituições são mantidos com o objetivo de lutarem contra a propagação do nazismo ou ódio racial.

Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola 

História do Meio Ambiente - A Gênese da Destruição

Matéria publicada em O GLOBO no dia 22/01/2011


A Gênese da Destruição
A turbulenta relação entre os brasileiros e as serras remonta à criação do país


Ana Lucia Azevedo

Atrágica história dos desastres naturais em terras brasileiras começa com o país. São Vicente, em São Paulo, a primeira povoação oficialmente criada na América portuguesa, teve o núcleo destruído por tempestades e ressacas em 1541. O padre José de Anchieta, ao escrever na mesma região em 1560, descreveu uma tempestade que “abalou as casas, arrebatou os telhados e derribou as matas”. Desde então, se sucedem os desastres gerados pela combinação de gente no lugar errado, montanhas e tempestades, destaca o historiador José Augusto Pádua, para quem a história tem muito a contribuir para a compreensão da relação entre o homem e a natureza. Relação que pode terminar em desgraça, como demonstrou a tragédia deste mês na Região Serrana do Rio.

— Temos uma longa trajetória de uso inadequado do solo. E uma visão da natureza sem enfoque histórico. As pessoas, e não só no Brasil, veem a natureza como um cenário. Mas a natureza é movimento. É transformação permanente — explica Pádua, um dos poucos especialistas brasileiros em história do meio ambiente e coordenador do Laboratório de História e Ecologia do Departamento de História da UFRJ.

Em busca de uma utopia possível

Pádua diz que a utopia possível é que vamos conseguir adaptar nossas necessidades ao mundo natural. Na era do aquecimento global, em que extremos tendem a se tornar mais regra do que exceção, esse aprendizado ganha urgência.

— É preciso conhecer a transformação da paisagem. Nos últimos dias houve muitos relatos de pessoas atingidas dizendo não se lembrarem de ter visto, em 70 anos, antes algo como as chuvas e desmoronamentos na Serra. Isso é muito tempo para uma vida humana. Mas não é nada para a natureza — diz Pádua.

Autoridades e meteorologistas discutem se as chuvas que devastaram a Serra entre 11 e 12 de janeiro foram as mais violentas da região. Para Pádua, a discussão é secundária. Pode ser que chuvas assim ocorram a cada 100 anos. Pode ser que não.

— O importante é se convencer de que elas podem voltar a ocorrer. Pode ser que tenham ocorrido outras vezes, mas que não tenham sido catastróficas porque ninguém morava lá. Se a história da ocupação das serras brasileiras, e não apenas a fluminense, ainda é incipiente, e está cheia de lacunas, a história natural é ainda mais desconhecida — afirma o historiador.

Exemplo disso é a visão equivocada sobre as florestas. Muita gente se chocou com o fato de encostas cobertas por florestas terem vindo abaixo na enxurrada.

— Muitos moradores pensaram que as encostas estariam defendidas pela presença de florestas. Realmente as florestas são a melhor proteção das encostas. No contexto atual, as propostas ruralistas de afrouxar o Código Florestal representam um tapa na cara da sociedade. Só que as florestas não existem no abstrato. Cada floresta tem sua história. Muitas das formações florestais da Serra são recentes e secundárias, estando bastante mexidas e fragmentadas. Se mesmo as florestas mais íntegras, dependendo do volume de água e do contexto geológico, podem não segurar um deslizamento, quanto mais as florestas secundárias. Conhecer a história de cada paisagem é fundamental para desenhar boas políticas de prevenção e reconstrução — explica o pesquisador da UFRJ.

O passado não registra nada da magnitude da catástrofe que matou centenas de pessoas em Nova Friburgo, Teresópolis e outros municípios serranos nas chuvas deste janeiro. Mas explica sua origem.

— Uma perspectiva ampla permite identificar que transformações na paisagem contribuíram para aumentar o desastre. E demarcar melhor que lugares devem ser considerados impróprios — observa o historiador.

Ele lembra que as enormes enchentes de 1987/88 na Serra Fluminense, ou no Rio de Janeiro em 1966/67, mataram bem menos gente do que a tragédia deste ano. Não porque estivéssemos mais bem preparados. Um fator decisivo é que a escala das populações e da ocupação dos espaços era muito menor.

— Havia menos gente em lugares que nunca deveriam ter sido ocupados. Os últimos 30 anos assistiram a um aumento populacional explosivo. Com as previsões de que chuvas extremas se tornarão mais frequentes, mais do que nunca é preciso repensar a ocupação, os limites de nossa sociedade de risco — frisa.

Nossa sociedade é paradoxalmente poderosa e vulnerável.

— O tamanho da população das cidades, a complexidade da infraestrutura e a dependência de fluxos intensos de matéria e energia, isto é, de água, de combustível, fazem com que nossa sociedade seja ao mesmo tempo muito poderosa, porém muito mais frágil — diz.

A história do Brasil nos traz muitos alertas.

— À medida que as cidades cresciam, com maior concentração de gente, como o Rio de Janeiro, onde se desmatava as encostas para agricultura, carvão ou moradia, as enchentes começaram a causar danos consideráveis e a ficar na memória coletiva. É o caso das “águas do monte” de 1811, quando parte do Morro do Castelo desmoronou. Ou da enchente de 1864, lembrada em 1889 por uma crônica de Machado de Assis. A partir do século XX a situação piorou muito — relata o historiador.

A questão das encostas já era alvo de críticas em 1821, quando José Bonifácio argumentou que a agricultura deveria ser feita nos vales, beneficiando-se da proteção dos morros florestados. O cultivo em encostas, motivado em grande parte pela facilidade de desmatar em favor da gravidade, era encarado por ele como uma combinação de ignorância, preguiça e má gestão. Em 1862, ao ver Petrópolis alagada pela chuva, o imperador D. Pedro II reclamou com o engenheiro do distrito que “pouco se fez do ano passado para cá” para enfrentar o problema.

E pouco continuou a se fazer, passados quase um século e meio desde a crítica do imperador. O plano original de Petrópolis, dos idos de 1840, não previa o desmatamento de encosta. Mas Pádua acredita que a região de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo permaneceu por muitos anos relativamente a salvo de catástrofes em virtude de sua baixa ocupação por muitos anos.

— Até meados do século XX a população dessas cidades estava na casa dos 30, 60 mil habitantes. Tudo isso mudou nas últimas décadas do século XX, quando a população começou a crescer muito depressa — diz Pádua.

Relação perigosa com o verde

O motivo seria o fenômeno socioeconômico que os historiadores chamam de Novo Rural, baseado em turismo, casas de campo, agricultura orgânica, criação de ovelhas, cavalos e produção de produtos finos. As pessoas subiram a Serra em busca do verde.

— Apesar dos muitos pontos de risco, a região se tornou cada vez mais atraente para os que queriam viver “mais perto da natureza”, ter maior contato com o verde. E pessoas pobres foram atraídas por essas novas oportunidades de emprego. Assim, casas ricas e pobres foram erguidas em lugares totalmente vulneráveis a desastres — salienta.

Para o historiador, só uma intensa presença do poder público no controle da ocupação, associada a formas inovadoras de manejo local, poderão indicar um caminho seguro para Região Serrana.

— A natureza não pede licença ao homem. Precisamos encontrar uma forma de nos adequar — conclui.

Jornal: O GLOBO          Autor: 
Editoria: Ciência         Tamanho: 1217 palavras
Edição: 1         Página: 34
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Caderno: Primeiro Caderno  
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Fonte: Site da AARFFSA